Igreja Positivista do Brasil
Descrição
A Igreja Positivista do Brasil foi construída entre 1890 e 1897, com concepções arquitetônica e ornamentais de Miguel Lemos.
Muito embora o positivismo seja uma escola filosófica onde domina o cientificismo, ela é também responsável por uma postura profundamente religiosa. Isto porque, a partir do encontro de Auguste Comte com Clotilde de Vaux, ou seja, após aquilo que ele chamou de sua “regeneração moral”, desenvolveram-se em seu pensamento os elementos utópicos. De filosofia da história, o positivismo comtiano transformou-se em religião da humanidade, com sua teologia, seus rituais, sua hagiografia. O cívico tornou-se religioso: os santos da nova religião era os grandes homens da humanidade, os rituais eram festas cívicas, a teologia era sua filosofia e sua política.
A mulher adquiriu importância crucial, sempre representada pela figura de Clotilde de Vaux, que, por determinação do mestre, deveria estar presente em todos os templos positivistas. A Virgem católica, alegoria da Igreja, tornou-se no positivismo a Virgem-Mãe, alegoria da humanidade. O novo culto foi minuciosamente descrito. Há um calendário positivista, com 13 meses, cada mês com quatro semanas, cada semana com sete dias. Cada mês e cada dia são dedicados a uma figura considerada importante na evolução da humanidade. O templo positivista deveria exibir a estátua da humanidade em posição central. Haveria também altares laterais, um deles dedicado às santas mulheres.
No Brasil, a junção da doutrina comtista com a visão estratégica dos ortodoxos (chefiados por Miguel Lemos e Teixeira Mendes) fez desses positivistas que rapidamente entraram em conflito com a corrente para quem esta religiosidade era abominável os principais manipuladores dos símbolos da República. O Brasil se lhes apresentava como às portas de grandes transformações, talvez mesmo de verdadeiro salto na seqüência das fases evolutivas previstas pelo pensamento positivista. Daí se terem lançado à doutrinação política com convicção e energia de apóstolos, daí, talvez, a urgência e necessidade da construção do templo.
Se a ação tinha de se basear no convencimento, impunha-se o uso dos símbolos. Em primeiro lugar, sem dúvida, a palavra escrita e falada. Dela fizeram uso abundante em livros, jornais, publicações da Igreja (que se contam às centenas), conferências públicas. Era sua principal arma de convencimento dos setores médios. Mas empregaram também o simbolismo das imagens e dos rituais, tendo em vista especialmente dois públicos estratégicos, as mulheres e o proletariado, menos afetos, no Brasil daquela época, à palavra escrita. Atingir esses dois públicos, convencê-los da verdade da doutrina, era condição indispensável para o êxito da tarefa que se impunham. A briga pelas imagens adquirira importância central.
O Templo Positivista do Rio de Janeiro, cuja pedra inaugural foi lançada no final do século XIX, conserva até hoje todas as marcas do imaginário positivista do início deste século. E até hoje, em sua beleza um pouco fanada, quem o visita pode perceber alguns traços do pensamento positivista. Esperamos que nas fotografias de Nelson Monteiro, apresentadas nas próximas páginas, algumas de suas características mais importantes, algumas de suas imagens mais fortes, fiquem claras para nossos leitores.
Sua construção serviu como sede do apostolado positivista no Brasil e teve início em 1890, sendo concluída em 1897. As concepções arquitetônica e ornamentais foram de Miguel Lemos e se consubstanciam em um manifesto da filosofia e da religião positivistas. A fachada imita o Panthéon de Soufflot em Paris, mas foram omitidos os capitéis das colunas. O interior do templo segue prescrições de Augusto Comte, com inúmeras referências ao ideário do catecismo positivista. No friso da fachada lê-se a máxima positivista: “O Amor por princípio, a Ordem por base, o Progresso por fim”.
Localização
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